Bolinhos e bolinhós e Halloween
Devo dizer que me causa alguma confusão quando se fala em Portugal do Halloween. A tradição, de origem celta, é muito antiga, foi aproveitada pela religião cristã e, no século XIX, comemorava-se em toda a Europa.
Dizem os americanos que foi no século XX que os irlandeses levaram o Halloween para os Estados Unidos. Mas as "lanternas" eram feitas com velas dentro de nabos e, dizem eles, só depois de chegarem à "terra das oportunidades", os irlandeses ficaram a saber que existiam abóboras e passaram a usá-las por mais convenientes.
Eu, quanto a mim, fui testemunha há 50 anos de uma tradição, já moribunda, que se usava aqui, na cidade de Coimbra. Dizem-me familiares com idade suficiente que há 80 anos essa tradição era prática comum.
E em que consistia essa tradição?
Em primeiro lugar, punha-se a mesa na noite de defuntos (de 1 para 2 de Novembro), para que estes, voltando à casa dos seus familiares, se pudessem banquetear.
Por outro lado, os meninos mais pobres (há 50 anos, aqui em Coimbra, eram as crianças do bairro da lata da Conchada, ali junto ao cemitério) vinham pedir pelas portas entoando uma canção que se chamava "Bolinhos e bolinhós". Esses meninos traziam abóboras cortadas de modo a fazer a figura de uma carantonha, abóboras essas que eram iluminadas com velas acesas dispostas no seu interior.
A canção, essa, dizia:
Bolinhos e bolinhós
Quando as pessoas a quem pertencia a casa abriam a porta, cantava-se:
Esta casa cheira a broa,
(e voltava-se a cantar o refrão, "bolinhos e bolinhós...")
Se as pessoas não abriam a porta, então era costume cantar-se:
Esta casa cheira a alho
(e, mais uma vez, o refrão.)
Os meninos, como eu disse, andavam com abóboras iluminadas por velas acesas. E, normalmente, recebiam muitas guloseimas e muitos tostõezinhos.
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